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ÁUDIO |Soja e milho em meio à turbulência global: impactos das tarifas e do mercado internacional

Foto do escritor: AGROARESAGROARES

A soja registrou uma forte queda na Bolsa de Chicago, com desvalorização de cerca de 1% nos contratos mais curtos. Já o óleo de soja encerrou a segunda-feira com uma queda ainda mais acentuada, próxima de 3%.


A queda da soja foi impulsionada pela desvalorização do óleo de soja, e alguns fatores entram no radar do mercado nesta semana. Um deles é a recente decisão da China de impor uma tarifa de 100% sobre a canola e seus derivados vindos do Canadá. O país é um dos maiores produtores de canola do mundo, enquanto a China figura como um de seus principais compradores.


Essa decisão veio como retaliação ao Canadá, que recentemente aplicou tarifas sobre os carros elétricos chineses. Diante disso, o mercado entende que o excedente de canola canadense pode ser direcionado aos Estados Unidos, onde será transformado em óleo para a produção de biocombustíveis.


Com um volume maior de óleo de canola disponível, a tendência é que o uso do óleo de soja diminua nos Estados Unidos. Além disso, caso Trump realmente imponha tarifas sobre a canola canadense, como já prometeu, o Canadá pode se ver sem mercado para escoar sua produção, já que seus dois principais compradores, China e EUA, estariam limitados.


O resultado desse cenário será um acúmulo de canola no Canadá, que será convertida em óleo e, em algumas situações, substituirá o óleo de soja. Isso pode reduzir o esmagamento de soja nos EUA, contribuindo para o aumento dos estoques americanos. E sabemos que, quanto maior a oferta de soja no mercado, menor tende a ser o preço.


Além disso, o mercado está atento ao relatório do USDA, que será divulgado hoje. O mês de março é crucial para a soja e o milho, pois marca o início das projeções oficiais de produção nos EUA. A partir desse relatório, teremos uma primeira estimativa da safra americana, fator fundamental para definir a tendência dos preços.


Se os Estados Unidos confirmarem uma produção elevada, os preços da soja podem sofrer ainda mais pressão, já que o mercado já conta com uma oferta grande vinda do Brasil e da Argentina. Por outro lado, a tendência mais provável para a safra americana deste ano é uma redução na área plantada com soja, já que o milho está mais rentável no momento.


O milho, ao contrário da soja, tem menor dependência da China, mas é fortemente ligado ao México. Caso Trump imponha tarifas sobre as importações mexicanas, como ameaçou, o impacto pode ser semelhante ao que ocorre com a canola canadense. Sem o México como grande comprador, os estoques de milho nos EUA podem aumentar, pressionando os preços para baixo.


Portanto, nesta semana, devemos monitorar atentamente as relações políticas entre China, Canadá, México e Estados Unidos, pois esses países estão diretamente influenciando os movimentos da Bolsa de Chicago.


Soja brasileira segue com cenário diferente


Enquanto a soja em Chicago apresenta um viés baixista para o segundo semestre, o mercado brasileiro encontra sustentação no dólar e nos prêmios de exportação. O preço da soja e do milho é formado pela soma de três fatores: Bolsa de Chicago, dólar e prêmios.


No Brasil, temos a Bolsa de Chicago em queda, mas prêmios e dólar elevados. Os prêmios de exportação seguem firmes e podem continuar assim até maio.


A previsão inicial era de que a escassez de farelo de soja na China se normalizasse entre março e abril, mas os embarques continuam atrasados e em volumes abaixo dos registrados no ano passado. Mesmo com uma safra maior do que em 2023, o ritmo de exportação não acompanhou esse aumento.


Esse atraso está relacionado ao início lento da colheita brasileira. Apesar do avanço recente, igualando-se aos níveis históricos, perdemos um período crucial para exportação nos meses de janeiro e fevereiro. Como resultado, a menor oferta de soja na China gerou escassez de farelo no país.


Com a oferta restrita, os prêmios de exportação no Brasil permaneceram elevados, sustentando os preços pagos aos produtores. No entanto, assim que a situação da oferta de farelo se normalizar, os prêmios poderão recuar – algo que pode acontecer a partir de maio.


Hoje, a China depende exclusivamente do Brasil para suprir sua demanda de soja. No final do ano passado, o país não comprou soja dos Estados Unidos, o que significa que, neste momento, a única soja chegando para esmagamento na China é a brasileira.


Esse cenário cria duas grandes oportunidades para os produtores brasileiros em 2025. A primeira ocorre até maio, período em que a escassez de soja na China pode proporcionar boas oportunidades de venda, aproveitando prêmios e dólar valorizado. A segunda será no segundo semestre, voltada para o mercado interno.


No segundo semestre, a demanda por óleo de soja aumenta no Brasil. Como grande parte da produção já terá sido exportada, a oferta interna será menor, favorecendo os produtores que segurarem estoques para esse período.


Mercado do milho segue em alta


Diferentemente da soja, o milho teve um dia positivo tanto na Bolsa de Chicago quanto na B3. O grão foi impulsionado pela alta do trigo, que enfrenta problemas climáticos na Rússia e em algumas regiões dos EUA.


Os estoques globais de trigo já estão nos menores níveis dos últimos anos e, com a possibilidade de uma nova quebra na produção, a oferta pode ficar ainda mais apertada. Como há uma relação direta entre milho e trigo – especialmente na China, onde o trigo pode substituir o milho quando este está caro –, o comportamento do trigo pode influenciar diretamente os preços do milho.


Outro fator positivo para o milho é a expectativa de queda nos estoques americanos no relatório do USDA de hoje. Diferente da soja, o milho dos EUA está sendo vendido em grandes volumes, principalmente para o México.


No entanto, se Trump realmente adotar tarifas contra o México, o impacto pode ser negativo para o milho, resultando em estoques elevados nos EUA e, consequentemente, pressão baixista sobre os preços em Chicago.


No Brasil, o milho segue otimista, mas ainda depende das condições climáticas para a safra safrinha. Se o clima for favorável e garantir boa produtividade, os preços podem perder sustentação. Por outro lado, mesmo que o plantio ocorra dentro da normalidade, a produção será menor do que em anos anteriores, o que deve evitar quedas mais expressivas nos preços.


Olhando para 2026 e 2027, o milho pode enfrentar mais pressão baixista, enquanto a soja pode ter mais suporte. Isso porque o milho deve ganhar mais área tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, impulsionado pela sua maior rentabilidade em relação à soja.

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