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Soja sobe em Chicago, mas prêmios negativos no Brasil preocupam — China e EUA firmam trégua temporária e o jogo da soja política volta à cena


A semana começou com forte alta para a soja na Bolsa de Chicago, subindo quase 2% nesta segunda-feira (13). No entanto, os prêmios de exportação no Brasil seguiram extremamente negativos, retirando boa parte dos ganhos obtidos na bolsa. Esse descolamento entre Chicago e o físico brasileiro continua sendo um dos maiores desafios para o produtor que ainda tem soja na mão.


O movimento de alta veio após um encontro importante no fim de semana: representantes da China e dos Estados Unidos se reuniram em Genebra, na Suíça, e anunciaram um acordo temporário de 90 dias para reduzir as chamadas "tarifas recíprocas" entre os dois países. A tarifa da soja americana, que antes da guerra comercial era de apenas 3%, chegou a atingir 143% nos últimos meses. Agora, será reduzida para 23%, até o próximo dia 14 de agosto.


É claro que o mercado reagiu. Toda vez que há reaproximação entre China e EUA, o setor de grãos entra em alerta — e com razão.

Boa parte das consultorias e canais de notícias só falaram de que a guerra comercial era uma bênção para o Brasil. Mas na Agroares, desde o começo, sempre alertamos sobre os riscos. Para o produtor, o pior que pode acontecer é se iludir com uma realidade temporária e não se preparar para as viradas de mercado. As más notícias raramente geram curtidas ou elogios, mas são elas que evitam prejuízos reais na hora da venda.


E é exatamente esse o momento que estamos vivendo agora: uma trégua temporária, que pode mudar o fluxo de exportações global. Trump, como já explicamos, tem como objetivo central reequilibrar a balança comercial — ou seja, fazer com que os EUA deixem de importar muito da China e, principalmente, que a China passe a importar mais dos americanos.


Nesse cenário, o corte nas tarifas foi só o começo. Agora, a China terá 90 dias para mostrar serviço e comprar volumes expressivos dos EUA. Isso é necessário para manter a relação equilibrada e evitar novas tarifas mais duras após agosto. A tendência é que os americanos aproveitem esse período para acelerar exportações, enquanto os chineses busquem formas de “agradar” politicamente o governo americano.


Mas... e a soja brasileira?


Na teoria, a soja do Brasil continua mais barata. Colocada nos portos chineses, ainda é a melhor opção para o comprador. Porém, na prática, a soja virou uma moeda de barganha política. A China já provou que é capaz de comprar grandes volumes da soja americana mesmo pagando tarifas de até 150%, como vimos no passado. Essas compras são chamadas no mercado de "manobras políticas" — ou seja, não seguem a lógica comercial, mas sim interesses diplomáticos.


Com isso, o mercado teme que, nos próximos dias, a China volte a intensificar compras nos EUA, mesmo com o produto mais caro. E o reflexo direto disso é a pressão sobre a soja brasileira, com prêmios negativos e um recuo nos preços internos.


Relatório do USDA também trouxe novidades


Além da tensão comercial, a segunda-feira também foi marcada pela divulgação do primeiro relatório do USDA com números da nova safra 2025/26. E as notícias foram positivas para a soja: os estoques finais nos EUA devem cair 1,5 milhão de toneladas, puxados por uma safra ligeiramente menor (estimada em 118 milhões de toneladas, quase 1 milhão a menos que a anterior) e pelo aumento do esmagamento interno.


Do lado brasileiro, o relatório já aponta uma produção recorde de 175 milhões de toneladas, 6 milhões a mais que a atual. Mas, diferente do que muitos pensam, o consumo interno sobe apenas 1,2 milhão. O destaque fica para as exportações, que devem saltar quase 8 milhões de toneladas — ou seja, a pressão por preços mais baixos para escoar esse volume continuará existindo.


Alerta extra: biocombustíveis nos EUA podem mudar tudo


Por fim, deixamos um último alerta: se o novo programa de biocombustíveis dos Estados Unidos for aprovado ainda este ano, o país terá que aumentar significativamente seu consumo interno de soja. Isso pode gerar escassez de soja no mercado americano, e mais uma vez colocar o Brasil em um cenário confortável — com soja disponível e liderança de preço.


Até lá, o produtor precisa ficar atento. O jogo da soja envolve política, diplomacia e clima. E o Brasil está no meio desse tabuleiro.



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